Os melhores livros de 2016

Mateus Baldi
9 min readDec 30, 2016

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Li 105 livros em 2016. Eis os melhores — e a lista completa.

Foram 105 livros lidos em 2016 (a lista está no final do post), portanto é chegada a hora de destacar: os 10 melhores editados no Brasil pela primeira vez em 2016 e os 10 melhores lidos em 2016, mas lançados em outros anos.

Feliz 2017 ❤

Os melhores livros lançados no Brasil em 2016

Primeiro lugar:
Como se estivéssemos em palimpsesto de putas, Elvira Vigna
A vista particular, Ricardo Lísias

Dois livraços fundamentais. No primeiro, múltiplas visões de sexo e vida se sobrepõem numa prosa permeada pela honestidade de uma narradora que tudo sabe mas pouco viu, e por isso abre múltiplas possibilidades (até mesmo quando chega o final, espetacular em forma e conteúdo). No segundo, o paulista Ricardo Lísias confirma sua força com uma trama altamente original, prosaica e divertida, discutindo os limites da vida — pública, privada e segura — enquanto brinda o leitor com um narrador altamente irônico que faz contorcer de rir. Imperdíveis e indissociáveis nesse primeiro lugar.

Segundo lugar:
O amor dos homens avulsos, Victor Heringer

Numa narrativa tão densa quanto tenra, o carioca Heringer conta a história de dois garotos nos tempos da ditadura militar. Munido de um olhar especial e sagacidade ímpar na hora de desembrulhar esse pacote altamente explosivo, Heringer flui pelo espaço-tempo como quem caminha em cima de ovos com um sorriso no rosto. Lindo, beirando o sublime. Vale demais a leitura.

Terceiro Lugar:
Meia-noite e vinte, Daniel Galera

Livro controverso — muita gente amou, muita gente odiou, muita gente achou mais do mesmo e muita gente só curtiu. A verdade é que para este que vos escreve, Meia-noite e vinte é a crônica definitiva da geração que fundou a internet brasileira, os noventistas agora majoritariamente frustrados ou deslocados. Dialogando com David Foster Wallace e a geração zine, Galera criou um romance que se garante em passagens memoráveis — o TEDx e o final, por exemplo. Leiam.

Quarto lugar:
Os fatos, Philip Roth
Um amor feliz, Wislawa Zsymborska

Mais um empate. A autobiografia de Roth, maior autor anglófono vivo, sai aqui com quase 30 anos de atraso: nela, com o tradicional sarcasmo judeu de sempre, o americano de Newark nos revela detalhes de sua produção enquanto lava roupa suja sem medo de ofender ninguém. Livro porrada, bom para quem precisa de uma dose de realismo, ma non troppo — é preciso saber filtrar onde Roth romanceia e onde abre o jogo. Já a polonesa Wislawa Szymborska tem mais uma coletânea de poemas editada após ganhar o Nobel. Com versos tão simples quanto complexos, Um Amor Feliz é o que faltava para o leitor brasileiro se apaixonar por uma das maiores escritoras do século passado, autora de um trabalho memorável.

Quinto lugar:
Histórias Naturais, Marcílio França Castro

Melhor livro de contos do ano — há quem diga que não só de contos, mas no geral também. Sagaz, inventivo e com toques de sublime, MFC surge aqui dando porrada no leitor sem dó nem piedade. O final de um dos contos me fez chorar que nem uma criancinha. Se por um lado a primeira parte surge como literatura de ficção propriamente dita, a segunda se equilibra na fronteira entre o ensaio e a crônica, permitindo que os múltiplos narradores possam sempre apontar aspectos do cotidiano que dificilmente seriam capturados por nós na correria do dia-a-dia. Livraço.

Quinto lugar:
Outros cantos, Maria Valéria Rezende
O tribunal da quinta-feira, Michel Laub

Vencedora do Jabuti ano passado por Quarenta Dias, Maria Valéria Rezende iniciou 2016 com um livro belo e singelo sobre uma mulher que faz uma viagem de ônibus e começa a relembrar passado para compreender o presente. O gaúcho Michel Laub retorna para encerrar sua trilogia mirando as hipocrisias de cada dia. Tratando de AIDS e privacidade em tempos digitais, seu tribunal é um romance que, mesmo contando com uma bela mistura de enredos, não decepciona — mas também não enche os olhos como eu esperei que fosse (diário da queda e a maçã envenenada, dois primeiros volumes da trilogia, se saem melhor), ainda que a tradicional voz do narrador laubiano, as referências pop e a prosa seca estejam lá.

Sexto lugar:
A vida não tem cura, Marcelo Mirisola

Romance mais curto dessa lista, com menos de cem páginas, poderia muito bem ser encarado como uma novela. Mas por sua força narrativa, é um romance sim. E dos bons. Também tratando da questão da geração anos noventa, desiludida e fodida nos anos 2000, o paulista Mirisola lança mão de todo seu sadismo & ironia para dar ao leitor uma das maiores porradas literárias de 2016. Divertido, engraçado e, muitas vezes, triste, esse livro é a prova de que a vida não tem cura, mas a literatura, talvez, sim.

Sétimo lugar:
O dono do morro, Misha Glenny

Ambicioso do início ao fim, Misha Glenny, convidado da FLIP e jornalista do Guardian, conta a história de Nem, o homem que aterrorizou o Rio de Janeiro e comandou o tráfico na Rocinha. Situando-se na zona cinza entre Abusado, de Caco Barcellos (longo demais), e Cidade Partida, de Zuenir Ventura (curto demais), o jornalismo literário do britânico é fundamental para compreendermos a tal Cidade Olímpica e a verdadeira — e trágica — realidade dos pobres no sul-maravilha. Sem se preocupar em condenar ou inocentar Nem, Glenny produz um relato vívido e honesto sobre a brutalidade e, principalmente, o que faz um homem subir o morro como trabalhador e descer como bandido.

Oitavo lugar:
Sul, Veronica Stigger

Vencedora do prêmio São Paulo com Opsianie Swiata, Veronica Stigger retorna pela Editora 34 com essa trilogia de textos — um conto distópico, uma peça meio Beckett, meio Kafka, e um poema manchado de inglórias. Coeso e coerente, Sul é um deleite para os amantes de uma boa violência aliada a um ímpeto estético que há muito andava em falta. Rigorosa no texto e na condução das personagens, Stigger produziu uma obra de força inversamente proporcional ao seu tamanho diminuto. Delicioso. ps: o final do livro contém um texto secreto, que cabe ao leitor descobrir.

Nono lugar:
O conto zero, Sérgio Sant’Anna
Inquérito Policial, Ricardo Lísias

Mais um empate, mas foi inevitável. O veterano Sant’Anna retorna para, em contos deliciosos, reviver seu passado e lançar luz em aspectos que a maioria dos autores gostariam de manter nas sombras. Trafegando sempre na margem ficção/realidade, Sérgio, como bom escritor, sabe a hora de iludir o leitor com fatos tão absurdos que parecem autêntica ficção — serão? Divertido e contundente na medida certa. Lísias, por sua vez, retorna a esse simples top10 com uma verdadeira obra de arte. No centro de uma polêmica absurda envolvendo falsificação de documentos nos ebooks do delegado Tobias, o paulistano se aliou à editora Lote 42 para literalmente produzir um inquérito policial a respeito da família Tobias. Considerado o maior expoente da chamada autoficção, Lísias joga o tempo todo com a realidade para criar um jogo de espelhos poderoso em que fac-símiles e documentos se enveredam pelas mãos do leitor até formar um panorama divertidíssimo e surpreendente.

Décimo Lugar:
A vida invisível de Eurídice Gusmão, Martha Batalha

Primeiro recusado por todas as grandes editoras, depois fenômeno em Frankfurt, sendo vendido para mais de dez países, e então lançado no Brasil pela Companhia das Letras. Se a trajetória desse romance de estreia parece confusa, as opiniões sobre suas 192 páginas são ainda mais — e contraditórias, diga-se de passagem. Há quem ame e quem odeie. A verdade é que Martha Batalha conseguiu criar duas protagonistas divertidas e opostas para contar a história de um Rio de Janeiro que só passou nos livros de História — seus rituais sociais ainda estão muito presentes no ano de dois mil e dezesseis. Jogando com a questão do feminismo ao mesmo tempo em que apresenta uma narrativa supostamente leve, Martha pode ter seus defeitos, mas diverte na medida certa. Aqui em casa foi um sucesso, mas compreendo por que alguns não curtiram.

bonus tracks: quadrinhos dos anos 10, andré dahmer // distância de resgate, samanta schweblin

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Os livros a seguir, como já foram lançados em outros anos, apresentam farto material crítico disponível, portanto a opção por apenas fazer uma mera lista:

Melhores livros lidos em 2016, mas lançados no Brasil em outros anos:

i. tirza, arnon grunberg /pssica, edyr augusto
ii. o longo adeus, raymond chandler
iii. jazz branco, james ellroy
iv. o livro amarelo do terminal, vanessa bárbara / informação ao crucificado, carlos heitor cony
v. tipos de perturbação, lydia davis / este é um livro sobre amor, paula gicovate
vi. guerra em surdina, boris schnaiderman
vii. contos negreiros, marcelino freire
viii. a invenção de morel, adolfo bioy casares
ix. a amiga genial, elena ferrante
x. coração de cavalo, charles peixoto / socráticas, josé paulo paes

bonus track: corpo presente, jp cuenca

Todos os 105 livros lidos em 2016

1. A Resistência, Julián Fuks
2. Flores da Ruína, Patrick Modiano
3. Primavera de Cão, Patrick Modiano
4. O Assassinato de Bebê Martê, Elvira Vigna
5. Informação ao Crucificado, Carlos Heitor Cony
6. Corpo Presente, João Paulo Cuenca
7. Pssica, Edyr Augusto
8. O Longo Adeus, Raymond Chandler
9. Quarenta Dias, Maria Valéria Rezende
10. Outros Cantos, Maria Valéria Rezende
11. Adeus, Minha Querida, Raymond Chandler
12. O Livro Amarelo do Terminal, Vanessa Barbara
13. O Livro dos Começos, Noemi Jaffe
14. Quem Quando Queira, João Bandeira
15. Tirza, Arnon Grunberg
16. Isso também vai passar, Milena Busquets
17. O Elogio da Literatura, Mario Vargas Llosa
18. Memórias De Um Casamento, Louis Begley
19. Esta Terra Selvagem, Isabel Moustakas
20. Este É Um Livro Sobre Amor, Paula Gicovate
21. Jazz Branco, James Ellroy
22. Maracanazo, Arthur Dapieve
23. Distância de Resgate, Samanta Schweblin
24. O Verão do Chibo, Vanessa Barbara & Emilio Fraia
25. A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, Martha Batalha
26. A Maçã Envenenada, Michel Laub
27. Welcome To Copacabana, Edney Silvestre
28. De Mim Já Nem Se Lembra, Luiz Ruffato
29. A Caderneta Vermelha, Antoine Laurain
30. Espere a primavera, Bandini , John Fante
31. Esquilos de Pavlov, Laura Erber
32. Anatomia de Um Julgamento, Janet Malcom
33. O Segredo de Joe Gould, Joseph Mitchell
34. Tipos de Perturbação, Lydia Davis
35. A Vida Não Tem Cura, Marcelo Mirisola
36. Quadrinhos dos Anos 10, André Dahmer
37. Somos Todos Iguais Nesta Noite, Marcelo Moutinho
38. O Dono do Morro: Um Homem e a Batalha Pelo Rio, Misha Glenny
39. Budapeste, Chico Buarque
40. A História dos Meus Dentes, Valeria Luiselli
41. Só Garotos, Patti Smith
42. Guerra em Surdina, Boris Schnaiderman
43. Descobri que Estava Morto, João Paulo Cuenca
44. O Amor dos Homens Avulsos, Victor Heringer
45. Como Se Estivéssemos Em Palimpsesto de Putas, Elvira Vigna
46. Inquérito Policial — Família Tobias, Ricardo Lísias
47. Histórias Naturais, Marcílio França Castro
48. Simpatia Pelo Demônio, Bernardo Carvalho
49. O Livro dos Nomes, Maria Esther Maciel
50. Poemas Tirados de Notícias de Jornal, Ramon Mello
51. Durante, Paloma Vidal
52. Insones, Laura Erber
53. Sonhos de Trem, Denis Johnson
54. Um Amor Feliz, Wislawa Szymborska
55. Poemas, Wislawa Szymborkska
56. Meia-noite e Vinte, Daniel Galera
57. Angu de Sangue, Marcelino Freire
58. Os Fatos, Philip Roth
59. F, Antônio Xerxenesky
60. Ka, Velimir Khlébnikov
61. A Timidez do Monstro, Paulo Scott
62. Jóquei, Matilde Campilho
63. Parvo Orifício, Catarina Lins
64. A Vista Particular, Ricardo Lísias
65. Rio Em Shamas, Anderson França
66. Baladas, Fabrício Corsaletti & Caco Galhardo
67. Cadernos: Esperança Do Mundo, Albert Camus
68. Cine Privê, Antonio Carlos Viana
69. A Amiga Genial, Elena Ferrante
70. História do Novo Sobrenome, Elena Ferrante
71. História de Quem Foge e de Quem Fica
72. O Tribunal da Quinta-Feira, Michel Laub
73. A Invenção de Morel, Adolfo Bioy Casares
74. Cadernos: A Desmedida Na Medida, Albert Camus
75. Via Férrea, Mário Alex Rosa
76. Formas do Nada, Paulo Henriques Britto
77. Jantar Secreto, Raphael Montes
78. A Gente Vai Se Separar, Ana Leticia Leal
79. O Conto Zero, Sérgio Sant’Anna
80. Cadernos: A Guerra Começou, Onde Está A Guerra?, Albert Camus
81. Desesterro, Sheyla Smanioto
82. Um Útero É Do Tamanho De Um Punho, Angélica Freitas
83. Bertrand Russell Em 90 Minutos, Paul Strathern
84. Músculo, Catarina Lins
85. Risco no Disco, Ledusha
86. Quadras Paulistanas, Fabrício Corsaletti
87. Fora do Tom — Crônicas de um jornalista de cueca
88. Carretel, Fernanda Oliveira
89. Sul, Veronica Stigger
90. Jeito De Matar Lagartas, Antonio Carlos Viana
91. 20 Poemas Para O Seu Walkman, Marilia Garcia
92. Contos Negreiros, Marcelino Freire
93. Socráticas, José Paulo Paes
94. Trouxa Frouxa, Vilma Arêas
95. Trovar Claro, Paulo Henriques Britto
96. Travessa Bertalha 11, Charles Peixoto
97. Creme de Lua, Charles Peixoto
98. Perpétuo Socorro, Charles Peixoto
99. Ocupa, Dimitri BR
100. Coração de Cavalo, Charles Peixoto
101. Marmota Platônica, Charles Peixoto
102. Sessentopeia, Charles Peixoto
103. Seu Madruga e Eu, Chacal
104. Murundum, Chacal
105. O Alienista, Machado de Assis

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Feliz 2017!

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