Os melhores livros de 2017

Li 110 livros em 2017. Eis os melhores — e a lista completa.

Mateus Baldi
10 min readDec 28, 2017

Foram 110 livros lidos em 2017 (a lista completa está no final do post), portanto é chegada a hora de destacar: os 10 melhores editados no Brasil pela primeira vez em 2017 e os 10 melhores lidos em 2017, mas lançados em outros anos. A maioria apareceu na Resenha de Bolso. Aliás, se você não conhece a Resenha de Bolso, deixo aqui o link pro Facebook e Instagram

Antes que eu me esqueça: os livros 101 atrações que sintonizaram o Brasil e Alguma coisa sempre esteve para acontecer foram incluídos fora da ordem que foram lidos — por descuido, esqueci de anotá-los e não lembrava a exata posição. Peço perdão pelo vacilo. O livro Nosso Lar, de Chico Xavier, não recebeu nota por ser um livro religioso. Não me parece fazer sentido atribuir cotação a questões de fé — mas fica aqui a dica para que leiam se quiserem, gostei muito.

Manual da Faxineira, coletânea de contos de Lucia Berlin, é, para todos os efeitos, hors-concours. Comecei a ler e gostei tanto que decidi ir devorando aos poucos, para não ficar órfão, ou seja: não entra na lista final porque não foi terminado — de propósito. Fica aqui a recomendação. Que livro, gente. Que livro.

Este post é dedicado à memória de Elvira Vigna, falecida em 10 de julho — a maior escritora que este país teve nas últimas décadas, quiçá sempre.

Explicações dadas, vamos aos melhores do ano. Feliz 2018 ❤

Melhores livros lançados no Brasil pela primeira vez em 2017

i.

O método albertine, Anne Carson
Noite dentro da noite, Joca Reiners Terron
[crítica completa]
História da menina perdida, Elena Ferrante
[crítica completa]

O melhor livro estrangeiro de 2017 é O método Albertine, sem dúvidas. Espécie de poema-ensaio (ou seria ensaio-poema?) sobre Em Busca do Tempo Perdido, trata-se de um tour de force literário. Curto, precioso, preciso. Não precisa ter lido Proust para entendê-lo. Eu mesmo não li e entendi tudinho. Que livro. A sucessão de ironias e cinismos me fizeram dar pulinhos de alegria durante a leitura. So if you add all the instants of stillness together you still get still.
Noite dentro da noite é o melhor nacional de 2017, disparado. Precisou de 10 anos para ser escrito e mistura toda sorte de gêneros. O romance latino, tão próprio de Roberto Bolaño, encontra aqui seu eco brasileiro. Profundidade, densidade, reviravoltas e um calhamaço sobre as últimas décadas brasileiras — dificílimo de largar.
História da menina perdida, de Elena Ferrante, redime a tetralogia napolitana dos dois volumes anteriores, que poderiam ser um só, e se resume a uma sucessão de porradas no estômago do leitor que ainda é obrigado a engolir uma das últimas páginas mais crueis — e deliciosas — da História das últimas páginas. Que livro. Que. Livro. Maldita Ferrante.

ii.

O martelo, Adelaide Ivánova [crítica completa]
Nossas noites, Kent Haruf
[crítica completa]
As perguntas, Antônio Xerxenesky
[crítica completa]
O vendido, Paul Beatty
[crítica completa]

Recheado de feminismo, sexo e olhar afiado, O martelo é o grande livro de poesia desse 2017. Adelaide Ivánova deve ser reverenciada pela coragem, apuro estético e brilho de seus poemas. Ser leitor é, sobretudo, ser masoquista e curtir apanhar direito. Adelaide sabe como bater. Leiam sem dó.
Nossas noites foi uma grata surpresa. Livro curto e preciso: uma viúva propõe ao seu vizinho, também viúvo, que se façam companhia durante as noites por vir. Essa estranha relação vira motivo de fofoca na cidadezinha onde moram, e tudo gira em torno desse casal adorável e sua história de fazer chorar. Necessário.
Gostei de tudo que o Xerxenesky fez até agora, mas As perguntas extrapola todas as convenções do terror e se instala em um local de difícil acesso. Pinceladas de Nietzsche, toques de Camus e o fantasma de James Joyce arrastando suas correntes por São Paulo. Whattabook.
O Vendido, da novata todavia, tem a densidade de um Dostoievski e a linguagem de um James Ellroy cheirando cocaína há trezentos dias. É preciso fôlego e uma boa dose disposição para encará-lo e rir de nervoso ao olhar tanto para dentro de nós mesmos. Livraço.

iii.

Diário da cadeia, Eduardo Cunha (pseudônimo) [crítica completa]
O peso do pássaro morto, Aline Bei
[crítica completa]

Lançado no começo do ano com alarde, Diário da cadeia é o livro mais engraçado de 2017. Protagonizado por um Eduardo Cunha extremamente caricato, virou objeto de disputa judicial que obrigou a editora a revelar que o autor era o paulista Ricardo Lísias. Livraço que merecia ter tido mais destaque pela qualidade literária do que pelas brigas políticas. Grande retrato do Brasil atual e sua política surrealista.
Já Aline Bei venceu um concurso capitaneado por Marcelino Freire e publicou este O Peso do pássaro morto, um romance de formação em forma de poesia. Acompanhando a trajetória de uma mulher por toda a sua vida, choca, brinca de agulha na carne e lança luz sobre o que pode ser um dos grandes nomes da próxima geração de escritoras brasileiras. Uma surpresa incrível e que merece estar nas principais indicações dos prêmios.

iv.

Sessão, Roy David Frankel [crítica completa]
Argonautas, Maggie Nelson
[crítica completa]

Em Sessão, o poeta Roy David Frankel parte de uma proposta ousada: transformar em poesia as notas taquigráficas da sessão parlamentar que derrubou Dilma Rousseff. Sem citar os autores das falas, o livro faz tremer pela constatação da situação do país e pela coragem & apuro estéticos. Das obras grandiosas.
Argonautas é uma história de amor, aula de teoria Queer, lição de tolerância e ensaio que não chega nem perto de parecer ensaio, não-ficção, ficção ou qualquer gênero possível. Argonautas é um livro sobre amor. E é uma porrada. Sublime.

v.

Ferrugem, Marcelo Moutinho [crítica completa]
Acre, Lucrecia Zappi
[crítica completa]
Anjo noturno, Sérgio Sant’Anna
[crítica completa]

Consagração de Marcelo Moutinho como hábil contista, Ferrugem levou o prêmio da Biblioteca Nacional como melhor livro de contos de 2017. Passeando pelo subúrbio, suas narrativas focam em tipos normalmente desprestigiados ao mesmo tempo em que traçam um olhar cheio de ternura para um Rio de Janeiro cada dia mais — injustamente — oculto.
Segundo romance de Lucrecia Zappi, Acre foi um dos quatro primeiros títulos da todavia. Grande romance sobre a decadência da classe média, fantasmas do passado e temas como homofobia, racismo e xenobofia. Necessário.
Sérgio Sant’Anna lançou o quinto livro inédito em seis anos e fez desse Anjo noturno uma baita coletânea de historias curtas que vão do memorialismo à brutalidade dos Anos de Chumbo — sem contar Talk show, dos melhores contos da nossa literatura recente. Aula de como se manter veterano sem permanecer preso ao passado.

vi.

O teatro do mundo, Catarina Lins [crítica completa]
O palácio da memória, Nate DiMeo
[crítica completa]
Microscópio, Luiza Mussnich

Nascida em Florianópolis, Catarina Lins é figurinha conhecida do circuito literário carioca e autora desse O teatro do mundo, um poema longuíssimo que captura com maestria o zeitgeist dessa geração de 2017. Dosando poesia e singeleza, Catarina sabe a hora de fazer o leitor arrepiar.
Outro lançamento da todavia, O palácio da memória é a transcrição realizada pelo tradutor Caetano W. Galindo do podcast homônimo, em que heróis inusitados e majoritariamente anônimos protagonizam histórias quase que fundadoras dos Estados Unidos. Emocionante aula de técnica narrativa, é o livro perfeito para levar em uma viagem de férias.
Microscópio não tem nem cinquenta páginas e me fisgou pela aspereza dos versos. Luiza Mussnich é poeta de mão cheia e promete fazer barulho, guardem este nome. Os versos de Microscópio são minúsculos, mas densos, e provocam no leitor uma angústia difícil de precisar. Triunfo da observação cotidiana — se aproxima muito em termos de agudez dos tradicionais e avassaladores haicais.

vii.

Câmera lenta, Marilia Garcia

Hélices — muitas hélices. O que Marilia Garcia faz neste livro é transformar em literatura os ruídos, as visões — a sensibilidade geral, por fim. Não fiz crítica porque não saberia fazê-lo. Certos livros devem ser sentidos, ainda mais livros de poesia como esse. Marilia abusa da sonoridade e abraça o caos por meio de poemas tão ordenadinhos que parecem brinquedos. Divirta-se, leitor. Isso aqui é potente demais.

viii.

Enquanto os dentes, Carlos Eduardo Pereira [crítica completa]

Estreia do carioca Carlos Eduardo Pereira, Enquanto os dentes é a história de Antônio, cadeirante negro e homossexual que precisa voltar à casa dos pais. Em algumas horas, tempo suficiente para cruzar a Baía de Guanabara no topo de uma barca, o protagonista relembra pontos-chave de sua trajetória e compõe um panorama valente sobre o que é existir no Rio de 2017. Marinha, juventude, acidentes de carro e pedras portuguesas. Alerta de cheiro permanente de sabão de coco após a leitura.

ix.

Mi maior, Milena Rodrigues [crítica completa]
Laços, Domenico Starnone
[crítica completa]

Tradicionalmente, os contos não costumam receber muita atenção. Esse Mi Maior foi uma surpresa. Milena Rodrigues apresenta histórias curtas, quase projetos de romances, e se projeta como voz a ser acompanhada de perto. Baita livro, divertidíssimo.
O italiano Domenico Starnone é casado com Anita Raja, franca favorita a ser Elena Ferrante. Como se não bastasse, escreveu Laços, que parece a versão masculina de Dias de Abandono, livro mais brutal de Ferrante. Mas, apesar das comparações inevitáveis, Laços se sustenta sozinho. Crônica de um casamento tão longevo quanto fragmentado, é um belo exemplo de como construir corretamente narrativas que desabam numa solução incontornável.

x.

Não está mais aqui quem falou, Noemi Jaffe [crítica completa]

Noemi Jaffe conta histórias como ninguém. Não dá para chamar de crônicas o que encontramos aqui, mas também não chegam a ser contos. São textos, narrativas, experimentações que vão da prosa poética ao testemunho duro. Provável campeão na categoria livro-delícia de 2017. Ler Noemi Jaffe é fundamental. Leiam Noemi Jaffe.

Bônus tracks: Confesso que perdi, Juca Kfouri [crítica completa]; Duas mulheres, Alice Sant’Anna; Sobre a tirania, Timothy Snyder [crítica completa]

Melhores livros lidos em 2017, porém lançados no Brasil em outros anos

Os livros a seguir, como já foram lançados em outros anos, apresentam farto material crítico disponível, portanto a opção por apenas fazer uma mera lista:

I. Ecce Homo, Friedrich Nietzsche
II. A montanha mágica, Thomas Mann
III. Diário de viagem, Albert Camus // Dias de abandono, Elena Ferrante
IV. Rilke shake, Angélica Freitas // O som e a fúria, William Faulkner
V. Na praia, Ian McEwan // Reparação, Ian McEwan
VI. O senhor do lado esquerdo, Alberto Mussa // Poema sujo, Ferreira Gullar
VII. Trinta e oito e meio, Maria Ribeiro
VIII. A lua vem da Ásia, Campos de Carvalho // Matadouro-5, Kurt Vonnegut
IX.
K. — relato de uma busca, Bernardo Kucinski
X. Os meninos da rua Paulo, Ferenc Molnár // Presságio, Hilda Hilst

Bônus tracks: Uma noite na praia, Elena Ferrante; Rapapés e apupos, Bruna Beber; Macau, Paulo Henriques Britto.

Todos os livros lidos em 2017

1. A Montanha Mágica, Thomas Mann
2. O Livro dos Baltimore, Joel Dicker
3. Ferrugem, Marcelo Moutinho
4. Led Zeppelin — Quando os gigantes caminhavam sobre a Terra, Mick Wall
5. O Método Albertine, Anne Carson
6. Matadouro-5, Kurt Vonnegut
7. Não, Bruna Mitrano
8. Os Meninos da Rua Paulo, Ferenc Molnár
9. Nietzsche, Heinrich Mann
10. O Espírito da Ficção Científica, Roberto Bolaño
11. Nosso Lar, Chico Xavier pelo Espírito André Luiz /// sem nota.
12. Morreste-me, José Luís Peixoto
13. Outros Jeitos de Usar a Boca, Rupi Kaur
14. Tarântula, Bob Dylan
15. É agora como nunca, Organização de Adriana Calcanhotto
16. Diário de Viagem, Albert Camus
17. Rilke Shake, Angélica Freitas
18. A Lua Vem da Ásia, Campos de Carvalho
19. Capão Pecado, Ferréz
20. Copacabana Dreams, Natércia Pontes
21. Diário da Cadeia, Eduardo Cunha (Pseudônimo)
22. Mi Maior, Milena Rodrigues
23. Histórias Secretas — 40 anos de Playboy no Brasil, Vários autores
24. Todas as histórias do analista de Bagé, Luis Fernando Veríssimo
25. Arena, Frederico Klumb
26. Calibre 22, Rubem Fonseca
27. Noite Dentro da Noite, Joca Reiners Terron
28. Sessão, Roy David Frankel
29. Na Praia, Ian McEwan
30. História da Menina Perdida, Elena Ferrante
31. Nossas Noites, Kent Haruf
32. Tentativa de esgotamento de um local parisiense, Georges Perec
33. Prisioneiras, Dráuzio Varella
34. Múltipla Escolha, Alejandro Zambra
35. Reparação, Ian McEwan
36. Amsterdam, Ian McEwan
37. K. — Relato de Uma Busca, Bernardo Kucinski
38. Ladainha, Bruna Beber
39. O Martelo, Adelaide Ivánova
40. Ecce Homo, Friedrich Nietzsche
41. Rasgada, Ana Rusche
42. Sarabanda, Ana Rusche
43. Nós que adoramos um documentário, Ana Rusche
44. Inverno num país tropical, Ana Rusche
45. Uma noite na praia, Elena Ferrante
46. Sobre a tirania, Timothy Snyder
47. Microscópio, Luiza Mussnich
48. Carne do Umbigo, Maria Rezende
49. Contratempos, Pedro Mexia
50. Ensaio sobre a cegueira, José Saramago
51. O Teatro do Mundo, Catarina Lins
52. A Retornada, Laura Erber
53. O senhor do lado esquerdo, Alberto Mussa
54. Trinta e oito e meio, Maria Ribeiro
55. No Shopping, Simone Campos
56. Metafísica prática, Ronaldo Bressane
57. O palácio da memória, Nate DiMeo
58. Escalpo, Ronaldo Bressane
59. O Filantropo, Rodrigo Naves
60. Neve Negra, Santiago Nazarian
61. Acre, Lucrecia Zappi
62. Interrompidos, Alê Motta
63. Não está mais aqui quem falou, Noemi Jaffe
64. Sem vista para o mar, Carol Rodrigues
65. As perguntas, Antônio Xerxenesky
66. Cravos, Julia Wähmann
67. Dias de abandono, Elena Ferrante
68. Callo à bocca, Glauco Mattoso
69. Paraísos Artificiais, Paulo Henriques Britto
70. Rapapés & apupos, Bruna Beber
71. A fila sem fim dos demônios descontentes, Bruna Beber
72. 101 atrações de TV que sintonizaram o Brasil, Patricia Kogut
73. Os Impunes, Richard Price
74. Câmera Lenta, Marilia Garcia
75. Um dia o amor vai encontrar você, Luiza Mussnich
76. Laços, Domenico Starnone
77. Coisas, Laura Liuzzi
78. Nem vem, Lydia Davis
79. O som e a fúria, William Faulkner
80. Macau, Paulo Henriques Britto
81. Zero K., Don Delillo
82. Confesso que perdi, Juca Kfouri
83. A noite da espera, Milton Hatoum
84. Anjo Noturno, Sérgio Sant’Anna
85. Enquanto os dentes, Carlos Eduardo Pereira
86. A filha perdida, Elena Ferrante
87. Como se fosse a casa, Ana Martins Marques & Eduardo Jorge
88. O peso do pássaro morto, Aline Bei
89. A glória e seu cortejo de horrores, Fernanda Torres
90. Açúcar de melancia, Richard Brautigan
91. Duas mulheres, Alice Sant’Anna
92. Glaxo, Hernan Ronsino
93. Baião de 2, Leoni & Mauro Santa Cecilia
94. Gog Magog, Patricia Melo
95. 50 Poemas de Revolta, Vários Autores
96. Roupas sujas, Leonardo Brasiliense
97. Poema Sujo, Ferreira Gullar
98. Virginia Berlim, Luis Biajoni
99. Na vertigem do dia, Ferreira Gullar
100. Presságio, Hilda Hilst
101. A menstruação de Valter Hugo Mãe, Carla Diacov
102. Erro tácito, Priscilla Menezes
103. Argonautas, Maggie Nelson
104. Balada de Alzira, Hilda Hilst
105. O Vendido, Paul Beatty
106. Alguma coisa sempre esteve para acontecer, Leilah Accioly
107. Pretérito Imperfeito, B. Kucinski
108. Dicionário das ideias feitas, Gustave Flaubert
109. A hipótese humana, Alberto Mussa
110. Balada do festival, Hilda Hilst

É isso. Foi isso. Se você leu tudo, muito obrigado.
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Feliz 2018!

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