Os melhores livros de 2018

Li 115 livros em 2018. Eis os melhores — e a lista completa.

Mateus Baldi
8 min readDec 28, 2018

Foram 115 livros lidos em 2018 (a lista completa está no final do post), portanto é chegada a hora de destacar: os Melhores editados no Brasil pela primeira vez em 2018 e os Melhores lidos em 2018, mas lançados em outros anos. A maioria apareceu na Resenha de Bolso. Aliás, se você não conhece a Resenha de Bolso, deixo aqui o link pro Facebook e Instagram

Alguns livros foram lidos antes de serem publicados, outros ainda estão no prelo — e alguns são ótimos originais que espero ver nas prateleiras assim que o mercado sair dessa crise doida [livros não publicados ainda são livros]. Sobre os negritos: livros que mais se destacaram, espécie de longlist para me guiar quando eu fosse montar os melhores do ano. Segue o baile.

Melhores livros publicados no Brasil pela primeira vez em 2018

i.

Tudo pode ser roubado, Giovana Madalosso [crítica]
Com armas sonolentas, Carola Saavedra [crítica]

O melhor livro — desde as primeiras páginas eu já sabia — foi Tudo pode ser roubado, estreia de Giovana Madalosso na narrativa longa. Uma garçonete cleptomaníaca precisa roubar a primeira edição d’O Guarani enquanto se envolve com milionários, travestis e São Paulo. Um livro denso ao mesmo tempo que joga com os clichês do romance policial para subvertê-los em nome de uma crônica existencialista da cidade. Fazia anos que eu não me divertia tanto lendo um livro — agora o Brasil tem uma Lisbeth Salander para chamar de sua.
Com armas sonolentas, de Carola Saavedra, é uma pancada inesperada. Três mulheres e linhas temporais que se cruzam como um tear de moiras implacáveis: incrível, incrível. Um cuidado estético absurdo, uma história linda, a melhor cena de carnaval que já li.

ii.

Floresta escura, Nicole Krauss [crítica]
Lincoln no limbo, George Saunders [crítica]

Os dois melhores livros internacionais de 2018 são de escritores americanos refletindo sobre memória e perdas. Em Floresta Escura, um advogado desaparece em Tel Aviv e uma escritora vai a Israel se meter com o espólio de Kafka. Relembrando a ancestralidade judaica, Nicole Krauss criou um romance-ensaio coalhado de tons épicos que traz um panorama poderoso sobre o que é ser judeu.
Lincoln no limbo é, sem exagero, um tour de force. Mesclando diversas técnicas narrativas, a estreia de George Saunders no romance lhe rendeu o Man Booker Prize por contar a triste epopeia do presidente Abraham Lincoln: em meio à Guerra Civil, seu filho morre. Devastado, o presidente norte-americano visita o cemitério onde o corpo foi enterrado. Misturando fantasmas, registros históricos e uma habilidade para o absurdo, Saunders diverte e traça uma linha definitiva no que poderia ter sido a História americana. Lindo, lindo.

iii.

Entre as mãos, Juliana Leite
Nuvens, Hilda Machado

Duas mulheres brasileiras, uma estreando com prêmios, outra póstuma. Entre as mãos venceu o prêmio Sesc e o APCA de melhor romance. Juliana Leite narrou magistralmente uma mulher acidentada tentando reconstruir os fios perdidos da vida numa história que não se rende ao clichê para ser comovente e ousada.
Hilda Machado deixou Nuvens pronto para publicação e estes poemas são um achado. Bonito demais, me deu vontade de ficar lendo por muito mais tempo — algumas obras deveriam ser intermináveis.

iv.

Alguns humanos, Gustavo Pacheco [crítica]
O pai da menina morta, Tiago Ferro [crítica]

Dois estreantes fazendo barulho. Convidado da FLIP, Gustavo Pacheco recebeu elogios fortíssimos de nomes como Sergio Sant’Anna, além do prêmio Clarice Lispector da Biblioteca Nacional. Nos contos de Alguns humanos, antropologia e sociologia se misturando para ressignificar a humanidade neste fim de década pelos olhos do passado. Incrível.
Em O pai da menina morta, o editor Tiago Ferro partiu de uma tragédia pessoal para narrar um pai que se vê tomado pelo horror absoluto: sua filha morre de repente. Misturando registros e apontando sua lente sem dó na cara da sociedade, Ferro criou um romance impactante e profundo que não permite respiros — no máximo, alguns risos nervosos. Igualmente incrível.

v.

Sorte, Nara Vidal
Identidades, Felipe Franco Munhoz

Dois autores, dois mitos. Em Sorte, o Brasil do século XIX é descortinado pela escravidão e odisseia de irlandeses que guardam em si o mito de uma ilha chamada Hy-Brazil. Nas mãos de Nara Vidal, fábula vira realidade e realidade vira realismo quase mágico. Delicioso de ler, ainda mais em tempos tão turbulentos.
Felipe Franco Munhoz recriou o mito de Fausto abusando da bagagem estética do leitor. Identidades é um livro difícil de se compreender durante o trajeto, mas que faz todo sentido quando fecha-se a última página — alguns chamariam de loucura saudável.

vi.

O que vem ao caso, Inez Cabral [crítica]

O que vem ao caso está em algum ponto entre autobiografia e autoficção. Relembrando suas peripécias acompanhando o pai, o poeta João Cabral de Melo Neto, Inez revive os anos que passou na Europa se rebelando contra freiras e a sociedade ocidental. Engraçadíssimo e ágil, me pegou de surpresa e conquistou nas primeiras páginas.

vii.

10:04, Ben Lerner
Sebastopol, Emilio Frai
a [crítica]

Dois autores ótimos e engraçados, com pitadas da Depressão No Fim Da Década. Autoficção no velho esquema autor-precisa-escrever-e-não-sabe-como, 10:04 traz um Ben Lerner afiadíssimo. Mesclando cultura pop e piadas com o meio literário, este romance traz uma Nova York quase apocalíptica. Entre passeios em museus e conversas com autores prepotentes, Lerner se solidifica como a grande voz engraçadinha da vez. Ótimo livro.
Sebastopol é a estreia solo de Emilio Fraia. Em três contos de tamanho médio, o paulistano prende o leitor por uma estranha sensação de inescapabilidade, ao mesmo tempo que seus personagens soam inapreensíveis. Com descrições minuciosas e jogando pesado no campo sensorial, Fraia surpreende — e muito — com suas personagens ambíguas e lugares insólitos para se visitar. O último conto é uma joia.

viii.

Valsa brasileira, Laura Carvalho

A economista Laura Carvalho conseguiu o impossível: explicar com o maior número de fontes e dados possíveis a complexa crise brasileira e o caos político que o país enfrenta. Didática sem perder os aspectos técnicos, Laura criou um livro que corre rápido e oferece ao leitor inexperiente no campo da economia um arcabouço de respeito para se inteirar do debate. Obrigatório.

Melhores livros lidos em 2018, porém lançados no Brasil em outros anos

Os livros a seguir, como foram lançados em outros anos, apresentam vasto material crítico disponível, portanto a opção por apenas fazer uma mera lista:

I. O teatro de sabbath, Philip Roth
II. O mito de sísifo, Albert Camus
III. Feliz ano novo, Rubem Fonseca
IV. A infância de jesus, JM Coetzee
V. História do olho, Georges Bataille
VI. Não há nada lá, Joca Reiners Terron
VII. Berenice procura, Luiz Alfredo Garcia-Roza
VIII. Black music, Arthur Dapieve // Mas você vai sozinha?, Gaía Passarelli
IX. Gran cabaret demenzial, Veronica Stigger
X. O próximo da fila, Henrique Rodrigues

TODOS OS LIVROS LIDOS EM 2018

1.O teatro de Sabbath, Philip Roth
2. Roteiro do silêncio, Hilda Hilst
3. Automatógrafo, Victor Heringer
4. Me chame pelo seu nome, André Aciman
5. Notícias em três linhas, Félix Fénéon
6. Black music, Arthur Dapieve
7. O mito de Sísifo, Albert Camus
8. Manual da demissão, Julia Wahmann
9. Desterros, Natalia Timerman
10. A teta racional, Giovana Madalosso
11. A cidade dorme, Luiz Ruffato
12. Karen, Ana Teresa Pereira
13. Última hora, José Almeida Júnior
14. Tudo pode ser roubado, Giovana Madalosso
15. Dupla exposição, Paloma Vidal & Elisa Pessoa
16. Asas de Ícaro, Ivens Scaff
17. O vestido, Ananda Sampaio
18. Os beneditinos, José Trajano
19. História do olho, Georges Bataille
20. Nuvens, Hilda Machado
21. O sol na cabeça, Geovani Martins
22. Floresta escura, Nicole Krauss
23. Enterre seus mortos, Ana Paula Maia
24. Nobel, Jacques Fux
25. Canção de Ninar, Leila Slimani
26. A gorda, Isabela Figueiredo
27. Lincoln no limbo, George Saunders
28. A última mulher, Luiz Alfredo Garcia-Roza
29. Nunca houve um castelo, Martha Batalha
30. O pai da menina morta, Tiago Ferro
31. A cobrança, Mário Rodrigues
32. Entre as mãos, Juliana Leite
33. A tirania do amor, Cristovão Tezza
34. Cidade cerzida, Adair Rocha
35. Nada a dizer, Elvira Vigna
36. O filho eterno, Cristovão Tezza
37. Congratulations by the way, George Saunders
38. Tupinilândia, Samir Machado de Machado
39. Sorte, Nara Vidal
40. Identidades, Felipe Franco Munhoz
41. A cara da mãe, Livia Garcia-Roza
42. Tudo o que eu sempre quis dizer, mas só consegui escrevendo, Maria Ribeiro
43. O que vem ao caso, Inez Cabral
44. O caso Morel, Rubem Fonseca
45. Lágrimas não caem no espaço, Luiza Mussnich
46. O complexo de Portnoy, Philip Roth
47. Garotas mortas, Selva Almada
48. 10:04, Ben Lerner
49. Casa dos ventos, Livia Garcia-Roza
50. Valsa Brasileira, Laura Carvalho
51. Um amor incômodo, Elena Ferrante
52. Com armas sonolentas, Carola Saavedra
53. Meu livro violeta, Ian McEwan
54. O homem que plantava árvores, Jean Giono
55. A um passo, Elvira Vigna
56. O escritor Victor Heringer, Victor Heringer
57. Zaralha, Leticia Novaes
58. O paraíso são os outros, Valter Hugo Mãe
59. Os monólogos da vagina, Eve Ensler
60. Berenice procura, Luiz Alfredo Garcia-Roza
61. Todo mundo merece morrer, Clarissa Wolff
62. Lô, Tony Bellotto
63. Carvão::Capim, Guilherme Gontijo Flores
64. Árvore de Diana, Alejandra Pizarnik
65. Os trabalhos e as noites, Alejandra Pizarnik
66. Alguns humanos, Gustavo Pacheco
67. Bigornas, Yasmin Nigri
68. Não muito, Bolívar Torres
69. Telescópio, Luiza Mussnich
70. Oeste, Carys Davies
71. Reserva natural, Rodrigo Lacerda
72. Nenhum mistério, Paulo Henriques Britto
73. A uruguaia, Pedro Mairal
74. O próximo da fila, Henrique Rodrigues
75. A memória do mar, Khaled Hosseini
76. Mas você vai sozinha?, Gaía Passarelli
77. As cidades invisíveis, Italo Calvino
78. O fim de Eddy, Édouard Louis
79. Lua na jaula, Ledusha Spinardi
80. Viagem, espera, Paulo Neves
81. Feliz ano novo, Rubem Fonseca
82. A infância de Jesus, JM Coetzee
83. Sebastopol, Emilio Fraia
84. BRock — o rock brasileiro dos anos 80, Arthur Dapieve
85. A vida escolar de Jesus, JM Coetzee
86. Carne crua, Rubem Fonseca
87. Manual da mãe judia, Dan Greenburg
88. Sem título — uma performance contra Sergio Moro, Ricardo Lísias
89. As coisas, Tobias Carvalho
90. Impossível como nunca ter tido um rosto, Ricardo Aleixo
91. As sete vidas de Nelson Motta, Nelson Motta
92. Trovas de muito amor para um amado senhor, Hilda Hilst
93. Assim na terra como embaixo da terra, Ana Paula Maia
94. Lavoura arcaica, Raduan Nassar
95. Ode fragmentária, Hilda Hilst
96. Sete cantos do poeta para o anjo, Hilda Hilst
97. Meu menino vadio, Luiz Fernando Vianna
98. Meu coração está no bolso, Frank O’Hara
99. República luminosa, Andrés Barba
100. Os anões, Veronica Stigger
101. Lar,, Armando Freitas Filho
102. Gran cabaret demenzial, Veronica Stigger
103. Cloro, Alexandre Vidal Porto
104. A estrela fria, João Almino
105. Tá todo mundo tentando, Gaía Passarelli
106. Não há nada lá, Joca Reiners Terron
107. A palavra ausente, Marcelo Moutinho
108. Estar em casa, Adília Lopes
109. Relógio de pulso, Ana Guadalupe
110. A teoria do jardim, Dora Ribeiro
111. Bonsai, Alejandro Zambra
112. O fascismo eterno, Umberto Eco
113. Na capital sulamericana do porco light, Catarina Lins
114. Um copo de cólera, Raduan Nassar
115. Carta ao pai, Franz Kafka

É isso. Foi isso. Se você leu tudo, muito obrigado.
Se você leu tudo e gostou, recomende esse post e siga a Resenha de Bolso no Facebook e Instagram.
Se você leu tudo e não gostou, deixe um comentário e vamos trocar uma ideia! ❤

Feliz 2018!

--

--