Os melhores livros de 2019

Li 105 livros em 2019. Eis os melhores — e a lista completa.

Mateus Baldi
8 min readDec 30, 2019

Foram 105 livros lidos em 2019 (a lista completa está no final do post), portanto é chegada a hora de destacar: os Melhores lançados no Brasil em 2019 e os Melhores lidos em 2019, mas lançados em outros anos. A maioria apareceu na Resenha de Bolso. Aliás, se você não conhece a Resenha de Bolso, deixo aqui o link pro site e instagram.

Ah, alguns livros foram lidos antes de serem publicados, outros ainda estão no prelo — e alguns são ótimos originais que espero ver nas prateleiras assim que o mercado sair dessa crise doida [livros não publicados ainda são livros]. Esse ano eu comecei a ler quadrinhos e me amarrei. Obviamente, entraram na lista final — tudo é texto, tudo é literatura. Sobre os negritos da lista: livros que mais se destacaram, espécie de longlist para me guiar quando eu fosse eleger os melhores do ano. O livro 44, por questões contratuais, não pode ter seu título revelado, mas é uma belezinha. Escrito por uma amiga querida, espero que seja publicado em 2020. Segue o baile.

MELHORES LIVROS PUBLICADOS NO BRASIL EM 2019

1. Marrom e amarelo, Paulo Scott [crítica]
Previsão para ontem, Henrique Rodrigues
[crítica]
A ordem do dia, Éric Vuillard
[crítica]
Meu ano de descanso e relaxamento, Ottessa Moshfegh
[crítica]

Sim, quatro livros empataram em primeiro lugar — dois nacionais, dois estrangeiros. Tentei resolver isso de alguma forma, mas a verdade é que todos eles me tocaram profundamente. Marrom e amarelo, último romance do Paulo Scott, é um triunfo de percepção política — em suas páginas, a história do racismo estrutural e a melhor leitura das rupturas institucionais que 2013/2014 permitiram ao Estado. Previsão para ontem, retorno do Henrique Rodrigues à poesia após mais de dez anos, é o primeiro livro a combater diretamente o desgoverno Bolsonaro. Henrique é um mestre da forma, seus poemas são uma pequena obra de arte nesse oásis de horror.
A ordem do dia, do Éric Vuillard, é um pequeno tratado sobre como o capitalismo está colado ao fascismo. Conduzindo a narrativa em dois tempos — uma reunião em que industriais alemães selaram apoio a Hitler e o dia em que o Reich anexou a Áustria –, este romance vencedor do Goncourt decanta os horrores da Segunda Guerra com uma das prosas mais irônicas que já li. Espetacular.
Meu ano de descanso e relaxamento, da Ottessa Moshfegh, é um estudo de personagem e uma pequena análise retroativa sobre a contemporaneidade: rica e bonita, a protagonista se enfurna em seu apartamento em Nova York e resolve tirar um ano sabático à base de remédios tarja-preta. Misto de crônica sobre o mundo pré-Onze de setembro e retrato de uma geração, este livro consagrou Ottessa como uma das vozes mais originais e viciantes da década.

2. Pescar truta na América, Richard Brautigan [crítica]
Sombrio ermo turvo, Veronica Stigger

Delirante, louco, absolutamente nonsense, Pescar truta na América é um livraço sobre o fim do sonho hippie. A ideia central deste experimento, que em alguns níveis parece remeter a grandes cut-ups temáticos, pode ser resumida em uma frase do terço final: “a América é apenas um lugar na mente”.
Sombrio ermo turvo, da Veronica Stigger, me desconcertou tanto que não consegui escrever sobre ele — não saberia por onde começar. É seguramente o melhor livro de contos da escritora gaúcha e retoma vários de seus temas: a estranheza, os anões, a escatologia, as interseções entre literatura e teatro. Que baita livro.

3. O verão tardio, Luiz Ruffato

Outro livro que não consegui escrever sobre, mas que me deixou muito feliz durante a leitura: retorno de Ruffato ao romance, trata-se de um retorno também às origens. Oseias, o protagonista, volta a Cataguases depois de anos e encontra uma cidade partida por velhas mágoas. Adotando um fluxo de consciência algo confortável, o escritor mineiro conseguiu tecer um painel de certo Brasil esquecido ao mesmo tempo em que disserta sobre a construção da memória e as marcas do tempo. Lindo.

4. O livro dos jardins, Ana Martins Marques
História de Joia, Guilherme Gontijo Flores
[crítica]

Não escrevi sobre o último da Ana Martins Marques porque não escrevo muito sobre poesia — falei sobre o Henrique porque me bateu um lampejo de possibilidade retórica. Fato é que a poeta mais celebrada do Brasil escreveu uma ode à flora para derrubar o concreto. Sentimental, afetuoso, muitas vezes onírico — no jardim de Ana Martins Marques, nenhum sonho é delírio. Sorte a nossa estarmos vivos para lê-la.
História de Joia é um romance experimental no limite da inconsciência. Espécie de retrato cubista do Brasil, com sobreposição de vozes e diversos registros, este livro do poeta e tradutor Guilherme Gontijo Flores é inversamente proporcional ao tamanho: adentrar suas páginas significa perder-se num labirinto que, mesmo após a leitura, fica ecoando no fundo da cabeça, como a voz insistente de uma criança que nunca some.

5. Cancún, Miguel del Castillo [crítica]

Estreia de Miguel del Castillo no romance, Cancún é um romance sobre memória e pertencimento. Joel, o protagonista, revisita sua adolescência em meio ao Rio dos anos 2000 numa jornada para entender a relação com o próprio pai. Alternando passado e presente, o fluxo do protagonista é uma lupa diante de uma classe social muito específica, que teve seu boom há pouco mais de duas décadas e nunca parou de crescer. Discutindo o Brasil de hoje através de filtros históricos, Cancún prova que não é necessário ser urgente nas avaliações sociopolíticas para conseguir executá-las.

6. Pessoas normais, Sally Rooney [crítica]
A vida pela frente, Émile Ajar
[crítica]

Dois romances de formação bem diferentes entre si, Pessoas normais e A vida pela frente me surpreenderam sobretudo pela honestidade. Se o primeiro é a formação de um casal, com todas as suas idiossincrasias millennials, o segundo é a deformação que a sociedade causa — especificamente se você for um muçulmano criado por judeus na Paris dos anos 1970.
Saudada como a voz da geração millennial, Sally Rooney concebeu Pessoas normais como uma jornada pelos anos 2010 enquanto narra os desencontros de Connell e Marianne. Melancólica, a autora dispensa concessões, sugando o leitor para uma odisseia sentimental deliciosa.
Émile Ajar, pseudônimo de Romain Gary, colocou no protagonista Mohammed toda a sua fúria contra o antissemitismo e o colonialismo francês. Crônica do que significa ser cidadão num mundo que só quer te devorar, A vida pela frente é o triunfo da comédia sobre a morte — com Hitler, prostitutas e a falência do Estado juntinhos e misturados.

Faixa bônus: Não li esse ano, e sim há muito tempo, em inglês, mas: em 2019 saiu no Brasil, finalmente, A literatura nazista na América, livraço do Roberto Bolaño. É seguramente o melhor lançamento da literatura internacional por aqui em 2019, e uma pancada maravilhosa — Bolaño forja a biografia de nazistas escondidos nas Américas, muitos deles empenhados em fundar o Quarto Reich como uma editora. É magistral.

MELHORES LIDOS EM 2019, MAS LANÇADOS EM OUTROS ANOS
Avenida molotov, Pedro Guerra
A vegetariana, Han Kang
O quarto de giovanni, James Baldwin
O sono eterno, Raymond Chandler
Rua Aribau, organização: Alice Sant’Anna
Coisas nossas, Luiz Antonio Simas
O beijo no asfalto, Nelson Rodrigues
Nemesis, Philip Roth
O apanhador no campo de centeio, JD Salinger
O silêncio da chuva, Luiz Alfredo Garcia-Roza
Nove histórias, JD Salinger
Macbeth, William Shakespeare
Amazona, Sérgio Sant’Anna
Vestido de noiva, Nelson Rodrigues

TODOS OS LIVROS LIDOS EM 2019
1. Mrs. Dalloway, Virginia Woolf
2. Efetivo variável, Jessé Andarilho
3. Serena, Ian McEwan
4. As helenas de troia, ny, Bernadette Mayer
5. Dublinenses, James Joyce
6. Avenida molotov, Pedro Guerra
7. A vegetariana, Han Kang
8. O quarto de giovanni, James Baldwin
9. O quarto branco, Gabriela Aguerre
10. Tudo em volta está deserto, Eduardo Jardim
11. Previsão para ontem, Henrique Rodrigues
12. O mal-estar na civilização, Sigmund Freud
13. Um casamento americano, Tayari Jones
14. Novecento, Alessandro Baricco
15. Pescar truta na américa, Richard Brautigan
16. Léxico familiar, Natalia Ginzburg
17. Primavera num espelho partido, Mario Benedetti
18. O sono eterno, Raymond Chandler
19. História de joia, Guilherme Gontijo Flores
20. O homem-mulher, Sérgio Sant’Anna
21. O que te pertence, Garth Greenwell
22. Rua aribau, organização: Alice Sant’Anna
23. Elegia do irmão, João Anzanello Carrascoza
24. Coisas nossas, Luiz Antonio Simas
25. Sombrio ermo turvo, Veronica Stigger
26. Maternidade, Sheila Heti
27. O verão tardio, Luiz Ruffato
28. O beijo no asfalto, Nelson Rodrigues
29. Nem o sol nem a morte, Daniel Augusto
30. Ode a mauro shampoo e outras histórias da várzea, Luiz Antonio Simas
31. A primavera das pragas, Ana Carolina Assis
32. Nêmesis, Philip Roth
33. O tribunal da quinta-feira, Michel Laub
34. Sonhos no terceiro reich, Charlotte Beradt
35. Eles e elas, Damon Runyon
36. As redes sociais foderam com a minha vida, Luiza S. Vilela
37. Rua de dentro, Marcelo Moutinho
38. Sangue na lua, James Ellroy
39. A última mulher, Luiz Alfredo Garcia-Roza
40. Antena Celeste, CRBBM
41. O apanhador no campo de centeio, JD Salinger
42. Notas sobre a impermanência, Paula Gicovate
43. A visita de João Gilberto aos Novos Baianos, Sérgio Rodrigues
44. xxxxxxxx
45. Uma mulher no escuro, Raphael Montes
46. Construção do amor, Chico Xavier
47. Enfim, capivaras, Luisa Geisler
48. A vida é boooa, Remco Campert
49. Sinais do mar, Ana Maria Machado
50. Os dias da crise, Jerônimo Monteiro
51. Controle, Natalia Borges Polesso
52. Ideias para adiar o fim do mundo, Ailton Krenak
53. Da ilha, Beatriz Bastos
54. Cancún, Miguel del Castillo
55. Meu ano de descanso e relaxamento, Ottessa Moshfegh
56. Serotonina, Michel Houellebecq
57. O silêncio da chuva, Luiz Alfredo Garcia-Roza
58. História da literatura e ciência da literatura, Walter Benjamin
59. No jardim do ogro, Leila Slimani
60. A mercadoria mais preciosa, Jean-Claude Grumberg
61. Bom dia, tristeza, Françoise Sagan
62. Depois a louca sou eu, Tati Bernardi
63. A vida pela frente, Émile Ajar (Romain Gary)
64. Marrom e amarelo, Paulo Scott
65. As aventuras do menino jesus, Alberto Manguel
66. A fúria, Silvina Ocampo
67. O corpo encantado das ruas, Luiz Antonio Simas
68. Quarteto, Manuel Vásquez Montalbán
69. O xale, Cynthia Ozick
70. O clube dos anjos, Luis Fernando Verissimo
71. Nove histórias, JD Salinger
72. Dois amores, Paulo Lins
73. A ordem do dia, Éric Vuillard
74. Macbeth, William Shakespeare
75. A morte e o meteoro, Joca Reiners Terron
76. Não precisa dizer eu também, Caco Ishak
77. Crocodilo, Javier Arancibia Contreras
78.Casulos, Rômulo Moraes
79. Mary Ventura e o nono reino, Sylvia Plath
80. O livro dos jardins, Ana Martins Marques
81. Amazona, Sérgio Sant’Anna
82. Rachaduras, Natalia Timerman
83. Nuvens [na seção de congelados], Lucas van Hombeeck
84. A vida é um escândalo, Affonso Romano de Sant’Anna
85. O gato e as orquídeas, Kwong Kuen Shan
86. O longo dia das bruxas, Jeph Loeb & Tim Sale
87. Batman: ano um, Frank Miller & David Mazzucchelli
88. Pessoas normais, Sally Rooney
89. Franny & Zooey, JD Salinger
90. Sobre os ossos dos mortos, Olga Tokarczuk
91. A loira de concreto, Michael Connelly
92. Essa gente, Chico Buarque
93. Deriva, Adriana Lisboa
94. Em plena luz, Tércia Montenegro
95. Vestido de noiva, Nelson Rodrigues
96. Hibernáculo, Amanda Paschoal
97. Luanda, Lisboa, Paraíso, Djaimilia Pereira de Almeida
98. Hora de alimentar serpentes, Marina Colasanti
99. Bichos contra a vontade, Frederico Klumb
100. Talvez precisemos de um nome para isso, Stephanie Borges
101. Talvez apenas isto, Luiza Mussnich
102. A ocupação, Julián Fuks
103. Pontos de fuga, Milton Hatoum
104. Onde estão as bombas, Tatiana Pequeno
105. Alguma poesia, Carlos Drummond de Andrade

É isso. Foi isso. Se você leu tudo, muito obrigado.
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Feliz 2020!

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