Os melhores livros de 2021
Li 120 livros em 2021. Eis os melhores — e a lista completa.
Foram 120 livros lidos em 2021 (a lista está no final do post), portanto é chegada a hora de destacar: os melhores editados no Brasil pela primeira vez em 2021 e os melhores lidos em 2021, mas lançados em outros anos. Alguns apareceram na Resenha de Bolso. Aliás, se você não conhece a Resenha de Bolso, deixo aqui o link pro site e pro Instagram ❤
Esse foi um ano difícil, e ainda assim foi o que mais li. Meu livro preferido foi um original ainda não publicado, uma história familiar de primeira, que eu espero que saia o quanto antes, de modo que a lista final é composta menos por livros imbatíveis que por obras tão boas que me fizeram esquecer estar lendo um livro.
Dois livros publicados antes de 2021 ganharam meu coração de modo irrevogável: Manifesto Contrassexual, de Paul B. Preciado, virou um dos livros da vida; O sensual adulto, de André Czarnobai, é bom DEMAIS, uma aula de boa ficção e bom humor. Ah: Sebastião Uchoa Leite foi uma ótima descoberta, estou lendo seus livros com muita calma, em um volume com sua poesia completa editado pela Cosac Naify.
Alguns livros foram lidos antes de serem publicados, outros ainda estão no prelo — e alguns são ótimos originais que espero ver nas prateleiras assim que possível [livros não publicados ainda são livros].
Sobre os negritos da lista: os que mais se destacaram, espécie de longlist para me guiar quando eu fosse eleger os melhores do ano.
Avisos dados, vamos aos livros.
Feliz 2022 ❤
OS MELHORES LIVROS PUBLICADOS EM 2021
i.
Vista Chinesa, Tatiana Salem Levy
Mérito, Rachel Cusk [trad. Fernanda Abreu]
Dois livraços — o primeiro sobre um estupro que acaba servindo de metáfora para a destruição social e urbana do Rio de Janeiro na época das Olimpíadas, e o segundo encerrando uma trilogia impressionante, recheado de boas discussões sobre arte e quetais. Em ambos, a última página é um triunfo literário. Que alegria ler obras assim.
ii.
Space invaders, Nona Fernández [trad. Silvia Massimini Felix]
Fachada, Elizabeth Sanxay Holding [trad. Stephanie Fernandes]
Vozes de batalha, Marina Colasanti
Três livros geniais: Space invaders é uma crônica do Chile de Pinochet, um daqueles livrinhos rápidos que entortam a cabeça; Fachada, um romance policial feminista publicado em 1947, thriller dos bons com a dissolução do lar como tema principal; Vozes de batalha, mezzo biografia, mezzo livro de memórias, é uma delícia: Marina Colasanti retoma a história de sua família para fazer uma crônica do Rio dos anos 30 e 40.
iii.
Lili — novela de um luto, Noemi Jaffe
Contos morais, J.M. Coetzee [trad. José Rubens Siqueira]
Você não vai dizer nada, Julia Codo
A palavra que resta, Stênio Gardel
Uma novela, dois livros de contos e um romance de estreia. Na primeira, Noemi Jaffe descreve com honestidade brutal o luto após a morte da mãe. O retorno de J.M. Coetzee, por sua vez, traz seu alter-ego Elizabeth Costello questionando o Ocidente e as relações a que a humanidade se propõe, tudo com o habitual tom feroz. O livro de estreia de Julia Codo é uma beleza: histórias profundas que investigam os afetos pela lógica do mínimo, daquilo que existe nas frestas do cotidiano. Também uma estreia, o romance de Stênio Gardel lida com homossexualidade e amor na velhice tendo o interior do Brasil como pano de fundo, numa narrativa cheia de fluxos e um cuidado ímpar com a linguagem. Quatro livraços.
iv.
Risque esta palavra, Ana Martins Marques
Escute as feras, Natassja Martin [trad. Camila Vargas Boldrini e Daniel Lühmann]
Notas sobre a impermanência, Paula Gicovate
O silêncio, Don DeLillo [trad. Paulo Henriques Britto]
O retorno de Ana Martins Marques é seu livro mais forte até aqui. Sexo, cigarro, religião: tudo se mistura em versos despretensiosamente simples, que vão fundo no que talham e expõem: nosso interior.
A antropóloga Natassja Martin foi atacada por um urso e decidiu escrever a experiência. Um livro curto e elegante, fundamental para sair da mesmice e do clichê: aqui a beleza é hedionda, e Martin não se furta a nos deixar transtornados diante de sua compreensão do horror.
Sou suspeito, li esse livro desde o rascunho, mas não posso deixar de falar: o novo romance de Paula Gicovate é um alívio. Esqueça os livros que falam da barbárie do amor pela chave do drama: Lia, a protagonista que se intitula “a Amélia da infidelidade”, é engraçadíssima em sua autoironia, e esse livro diverte até quando fica triste. Uma delícia.
Don DeLillo é sempre ótimo. Aqui, um panorama da nossa relação com a tecnologia, um livrinho curto sobre um apagão mundial e o destino da humanidade em pleno Super Bowl. Vale demais.
v.
Autobiografia do vermelho, Anne Carson [trad. Ismar Tirelli Neto]
Anos de chumbo e outros contos, Chico Buarque
Os tais caquinhos, Natércia Pontes
Anne Carson é um delírio. Autobiografia do vermelho transpõe o mito de Gerião para o final do século XX num romance em versos absolutamente queer e delicioso.
Chico Buarque estreia na narrativa curta com histórias em que a realidade se torna cada vez mais insustentável. Do presente ao passado da ditadura, esses contos provam que os anos de chumbo nunca deixaram de existir. E que bom que temos alguém como Chico para narrar isso.
O primeiro romance de Natércia Pontes é divertido — e nojento. Em Fortaleza, um pai vive com suas filhas num apartamento imerso no mais profundo caos. As desventuras dessa família formam o eixo de um livro que investiga os afetos e o que fazemos quando tudo parece tão, tão cheio de dor.
Bonus tracks [sem nenhuma ordem]:
Erva brava, Paulliny Tortt
baita livro de contos, com um final apoteótico
Baixo esplendor, Marçal Aquino
novo romance do Marçal, um thriller erótico de primeira
Uma tristeza infinita, Antônio Xerxenesky
um psiquiatra e o legado da Segunda Guerra nos anos 50. ótimo livro.
A sexualidade de meninas ex-crentes, Bianca Gonçalves
religiosidade e formação num livro de poemas curto e penetrante.
Duas mortes, Julia Bac
primeiro livro da Julia, poemas que meditam sobre a morte e os afetos.
O que não cabe na boca, Tite de Lamare
uma grande estreia na poesia, poemas-engrenagens excelentes ❤
Chifre, Adelaide Ivánova
poemas cheios de humor, comunismo e feminismo. Adelaide ❤
OS MELHORES LIVROS LIDOS EM 2021, MAS PUBLICADOS EM OUTROS ANOS
Os livros a seguir não estão em ordem de preferência, mas sim na ordem em que foram lidos
Nove noites, Bernardo Carvalho
Cidadã: uma lírica americana, Claudia Rankine
Um bonde chamado Desejo, Tennessee Williams
Solo para vialejo, Cida Pedrosa
Desterro, Camila Assad
Kramp, María José Ferrada
Use o alicate agora, Natasha Felix
Polaroides, Adelaide Ivánova
O sensual adulto, André Czarnobai
O que deu para fazer em matéria de história de amor, Elvira Vigna
Dez sonetos sem matéria, Sebastião Uchoa Leite
Dez exercícios numa mesa sobre o tempo e o espaço, Sebastião Uchoa Leite
Signos/Gnosis e outros, Sebastião Uchoa Leite
Um coração simples, Gustave Flaubert
Isso não é aquilo, Sebastião Uchoa Leite
Memórias sentimentais de João Miramar, Oswald de Andrade
O caso Morel, Rubem Fonseca
A vida submarina, Ana Martins Marques
Manifesto contrassexual, Paul B. Preciado
TODOS OS LIVROS LIDOS EM 2021
1. Nove noites, Bernardo Carvalho
2. Os sete gatinhos, Nelson Rodrigues
3. Cidadã: uma lírica americana, Claudia Rankine
4. Torto arado, Itamar Vieira Junior
5. Óleo sobre tela, Gustavo Fechus
6. Um bonde chamado Desejo, Tennessee Williams
7. Você não vai dizer nada, Julia Codo
8. A vida mentirosa dos adultos, Elena Ferrante
9. Os ratos, Dyonelio Machado
10. Anjo caído, Rogério Durst
11. Apague a luz se for chorar, Fabiane Guimarães
12. Vista Chinesa, Tatiana Salem Levy
13. Mérito, Rachel Cusk
14. Desalinho, Laura Liuzzi
15. A estrangeira, Claudia Durastanti
16. O mapeador de ausências, Mia Couto
17. Solo para vialejo, Cida Pedrosa
18. Os tais caquinhos, Natércia Pontes
19. Loira suicida, Darcey Steinke
20. Meu anjo da guarda tem medo do escuro, Charles Simic
21. A retornada, Donatella di Pietrantonio
22. Desterro, Camila Assad
23. Algo antigo, Arnaldo Antunes
24. Não, não é bem isso, Reginaldo Pujol Filho
25. Kramp, María José Ferrada
26. Use o alicate agora, Natasha Felix
27. A máquina de Goldberg, Vanessa Barbara & Fido Nesti
28. Polaroides, Adelaide Ivánova
29. O sensual adulto, André Czarnobai
30. O que deu para fazer em matéria de história de amor, Elvira Vigna
31. Dez sonetos sem matéria, Sebastião Uchoa Leite
32. Dez exercícios numa mesa sobre o tempo e o espaço, Sebastião Uchoa Leite
33. Memórias de um sargento de milícias, Manuel Antônio de Almeida
34. Tudo que já nadei, Letrux
35. Baixo esplendor, Marçal Aquino
36. Signos/Gnosis e outros, Sebastião Uchoa Leite
37. Nem sinal de asas, Marcela Dantés
38. O som do rugido da onça, Micheliny Verunschk
39. Antilogia, Sebastião Uchoa Leite
40. Meu mundo versus Marta, Paulo Scott & Rafael Sica
41. A palavra que resta, Stênio Gardel
42. A orca no avião, Sofia Mariutti
43. Tudo coisa da nossa cabeça, Luiza Mussnich
44. O riso dos ratos, Joca Reiners Terron
45. Um coração simples, Gustave Flaubert
46. O jardim dos Finzi-Contini, Giorgio Bassani
47. Isso não é aquilo, Sebastião Uchoa Leite
48. Impressão sua, André Dahmer
49. Objeto sem contorno, Valeria Campos
50. Tudo é rio, Carla Madeira
51. Zaranza, Rita de Podestá
52. Memórias sentimentais de João Miramar, Oswald de Andrade
53. O último gozo do mundo, Bernardo Carvalho
54. Nada vai acontecer com você, Simone Campos
55. Pequena enciclopédia de seres comuns, Maria Esther Maciel
56. Forte apache, Marcelo Montenegro
57. Garagem lírica, Marcelo Montenegro
58. Orfanato portátil, Marcelo Montenegro
59. Cinelândia, Leila Danziger
60. O que não cabe na boca, Tite de Lamare
61. Risque esta palavra, Ana Martins Marques
62. Verdade tropical, Caetano Veloso
63. O silêncio, Don DeLillo
64. O caso morel, Rubem Fonseca
65. Meu cio é seu, Leila Loureiro
66. A vida submarina, Ana Martins Marques
67. A chave de casa, Tatiana Salem Levy
68. Sabina e Ernesto na Alemanha, Clarice Motta & Miguel Viñas
69. O caderno rosa de Lori Lamby, Hilda Hilst
70. Lili — novela de um luto, Noemi Jaffe
71. O lugar, Annie Ernaux
72. Leitura crítica
73. Manifesto contrassexual, Paul B. Preciado
74. Pequena coreografia do adeus, Aline Bei
75. Uma tristeza infinita, Antônio Xerxenesky
76. Quando a cavala deita, Amora Pêra
77. Notas sobre a impermanência, Paula Gicovate
78. Eu vou matar Maximillian Sheldon, Leonardo Brasiliense
79. Chifre, Adelaide Ivánova
80. o tempo amansa/ a gente, Luiza Oliveira
81. vento, vigília, Ceci Penido
82. Precoce, Ariana Harwicz
83. Virginia mordida, Jeovanna Vieira
84. Alta fidelidade, Nick Hornby
85. Space invaders, Nona Fernández
86. De cada quinhentos uma alma, Ana Paula Maia
87. Enquanto os dentes, Carlos Eduardo Pereira
88. Salvatierra, Pedro Mairal
89. Sistema do tato, Alejandra Costamagna
90. Leitura crítica
91. Duas mortes, Julia Bac
92. Robinson Crusoé e seus amigos, Leonardo Gandolfi
93. Os 364 dias que não são dia das mães, Julia Ribeiro
94. Ensaio para casa vazia, Annita Costa Malufe
95. Leitura crítica
96. A sexualidade de meninas ex-crentes, Bianca Gonçalves
97. No ano de Blade Runner: a crise constitucional, Júlia Manacorda
98. [leitura crítica] Melhor leitura do ano, romance inédito!
99. Os anos de chumbo e outros contos, Chico Buarque
100. Wyoming [lugares onde não estou], Paloma Vidal
101. Vozes de batalha, Marina Colasanti
102. Henrique Lage, Clóvis Bulcão
103. A pediatra, Andréa del Fuego
104. Leitura crítica
105. Sonetos de amor e sacanagem, Gregorio Duvivier
106. Rinha de galos, María Fernanda Ampuero
107. Visão noturna, Tobias Carvalho
108. Opisanie Swiata, Veronica Stigger
109. Dias e dias, Adília Lopes
110. Carinhoso, Ana Carolina Assis
111. O castiçal florentino, Paulo Henriques Britto
112. Fachada, Elizabeth Sanxay Holding
113. Contos morais, J.M. Coetzee
114. Não é um rio, Selva Almada
115. Erva brava, Paulliny Tort
116. Amores improváveis, Edney Silvestre
117. Cheia, Natália Zuccala
118. Autobiografia do vermelho, Anne Carson
119. Elefantes no céu de Piedade, Fernando Molica
120. Escute as feras, Natassja Martin
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